Cresce o medo do desemprego entre jovens

12/08/2012 17:35

 

Roberto Custódio/Jornal de Londrina / Economista Clévia Israel Faria França:

Para especialistas, principal motivo dessa preocupação é a instabilidade do cenário econômico atual


 

 

 

 

O medo do desemprego cresceu entre os jovens na comparação entre os meses de março e junho deste ano. O dado é da pesquisa Termômetros da Sociedade Brasileira, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada trimestralmente. O Índice de Medo do Desemprego (IMD) de junho (74,7) aumentou 1,6% em relação ao mês de março. Esse crescimento foi maior entre os jovens entre 16 e 24 anos (3,2%) e entre os adultos com mais de 50 anos (3,7%). Para especialistas, principal motivo dessa preocupação é a instabilidade do cenário econômico atual.

A economista e professora da FGV em Londrina Clévia Israel Faria França afirma que uma das justificativas para o medo ser maior entre jovens e idosos é o acesso deles à informação. Segundo a professora, existem estudos que projetam um cenário com problemas econômicos sérios no Brasil dentro dos próximos quatro anos. “Um desses problemas é o desemprego”, citou. Clévia explica que muitas empresas estarão passando por problemas financeiros, por conta do aumento da inadimplência entre os consumidores. “Isso significa reduzir postos de trabalho, menos renda. Sem renda, não há consumo, nem investimentos”. Uma pesquisa divulgada na semana passada pela Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) mostra que os comerciantes devem contratar 50% a menos para os empregos temporários de fim de ano na comparação com 2011. O principal motivo é a crise externa. “É um círculo vicioso”, diz.

Mercado de trabalho oscila em Londrina

A psicóloga e gerente de Recursos Humanos da Capital Humano em Londrina, Ruth Hayashi, diz que o mercado de trabalho em Londrina não está aquecido como no ano passado, quando a grande oferta de vagas permitia a escolha do emprego pelos candidatos. A oscilação do mercado só não é sentida em Londrina por conta da chegada de um novo segmento na cidade: o de shoppings. “Em vez de cargos operacionais, da indústria, o foco passa a ser comercial. Estamos com um pico na contratação para o comércio”, aponta. Por conta disso, o mercado de trabalho local continua movimentado.

Segundo a gerente de RH, 80% das pessoas que buscam uma vaga estão interessadas na possibilidade de crescimento profissional dentro das empresas. “Elas buscam o fator financeiro agregado à satisfação profissional”, conta. Por outro lado, a grande preocupação das empresas é reter talentos. “As empresas estão mais focadas nas questões comportamentais do que técnicas na hora da seleção”, afirma. Segundo Ruth, isso se justifica porque a técnica pode ser ensinada, mas se o comportamento do candidato não estiver de acordo com a cultura da empresa, dificilmente ele se adaptará na atividade. E essa questão comportamental independe de idade.

 

De acordo com a professora, os jovens são informados sobre o cenário econômico dentro da própria universidade e veículos de comunicação. Ela cita ainda outro problema. “Existem muitos postos de trabalho, mas falta formação, capacidade intelectual. Hoje, o mercado exige muito mais conhecimento do que anos atrás”, lembra. Um dado curioso é que a preocupação de perder o emprego é maior nas pessoas que possuem Ensino Médio ou Ensino Superior completo. Para a economista, isso é reflexo do “mundo instável em que vivemos”. “É preocupante porque as empresas querem pessoas capacitadas, mas ao mesmo tempo têm medo de contratar por conta dos salários, que são mais altos.” No entanto, ela ressalta que quando o cenário econômico piorar, quem tem mais capacitação irá se sobressair no mercado.

Sobre a preocupação dos mais velhos – pessoas acima dos 50 anos -, o psicólogo do trabalho e docente aposentado da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Sebastião Ovídio Gonçalves argumentou que a crise econômica atual, que atinge diversos países, tem exigido uma redução de custos pelos governos e isso reflete diretamente no pagamento das aposentadorias. “Se o governo não consegue mais manter os aposentados, terá que aumentar a idade para a aposentadoria”, afirmou. Com isso, as pessoas que já teriam idade para se aposentar precisam continuar no trabalho. “O que significa que pode faltar emprego para essa faixa etária”, completa. O psicólogo ressalta ainda que quando ocorrem demissões, quem sai primeiro são aqueles com os maiores salários, que representam mais custos para as empresas, ou seja, profissionais com anos de experiência e maturidade.

Medo passa pelas questões financeiras e de realização profissional

O medo de perder o emprego pode estar relacionado não só à estabilidade financeira, mas também aos planos de desenvolvimento profissional. É o caso da redatora publicitária Denise Nardin Berto, de 22 anos. Formada em Letras e Publicidade, ela atua na área há quatro anos e meio. “Eu amo o que eu faço, mas também tenho medo pelo dinheiro, de não conseguir realizar meus planos [pessoais]”, conta. Entre esses planos e sonhos está a compra de um apartamento. Já para a auxiliar de recursos humanos Camila Correa da Silva, de 22, a principal preocupação é com relação à estabilidade financeira. “Estou noiva e quero casar. Vou entrar numa conta alta e se não tiver emprego vou pagar como?”, questiona, preocupada

 

Fonte: Jornal de Londrina